Resenha: "A Vida de Pi"

23/08/2015 13:37

 

  Editora: Editorial Presença

  Autor: Yann Martel

  Edição: 13

  Número de páginas: 321

 

 

 

 

 

Sobre o autor:

Yann Martel é um escritor canadense que nasceu em Salamanca, Espanha, em 1963. A sua popularidade deve-se, principalmente, a esta obra, “A vida de Pi”, que já venceu o conceituado Prémio Booker. O escritor estudou Filosofia na Universidade de Trent, tendo depois viajado e trabalhado em diversos empregos, antes de se dedicar à escrita.

 

A obra:

Este romance de aventura conseguiu fazer-me experimentar diversos sentimentos, desde espanto a horror, passando pelo medo e… fé!

A obra encontra-se dividida em três partes, formando este livro de cem capítulos (um número bem redondo e perfecionista).

 

A primeira parte do livro retrata o herói, Piscine Molitor Patel, um jovem indiano, bem como a sua infância, a sua família e a sua fé peculiar. Considerava encaixar-se no Cristianismo, Islamismo e Hinduismo, pois em todas elas encontrava um forte elo de ligação: o amor por Deus. Manifestava o sonho de as diferentes religiões coexistirem pacificamente, uma ideia inocente e, simultaneamente, evoluída em relação aos pensamentos de muitas pessoas, atualmente.

 

Na escola, gozando com o rapaz, tratavam-no por “Pissinha”, devido às semelhanças fónicas entre o seu nome e o termo maldoso. Talvez uma referência do autor ao bullying. Bem, a verdade é que esta situação só terminou, quando Piscine decidiu escrever no quadro de giz da escola que a partir desse dia se chamaria Pi Patel, um nome que não “induziria em erro”.

 

O pai de Pi possuía um jardim zoológico na cidade de Pondicherry, mas devido à crise política vivida na Índia na década de 70, a família decidiu abandonar o país, embarcando numa viagem de cargueiro até ao Canadá, na qual levaram a bordo os animais do zoo.

 

Na segunda parte, o leitor é levado numa viagem pelo Pacífico. O barco onde a família de Pi seguia afundou e Pi, o único sobrevivente da tragédia, vê-se sozinho, num bote salva-vidas, acompanhado de uma zebra, uma hiena, um orangotango e um tigre-de-bengala. Depois das lutas predativas entre os animais, só restam Pi e o tigre adulto, que acabam por desenvolver uma estranha ligação… delimitam territórios e Pi tem de se mostrar o macho alfa, principalmente através da alimentação. No fundo, acaba por “domar” o tigre e criar com ele uma espécie de amizade.

 

Durante sete meses, o leitor segue numa viagem repleta de tribulações diversas, desde a cegueira temporária de Pi, durante a qual conheceu outro náufrago, que acabou comido por Richard Parker, o tigre, até à paragem numa ilha carnívora.

 

Mas será que sete meses de afastamento do mundo exterior são capazes de animalizar um jovem e de humanizar um tigre?

 

Finalmente, chegam a terra firme, no México, onde Pi é abandonado por Richard Parker, um momento verdadeiramente dramático. O seu amigo e companheiro desta longa viagem deixa-o, sem dó nem piedade, esquecendo tudo o que passaram… Afinal de contas, depois de tanto de tempo de convivência, o tigre tornou-se o seu melhor amigo!

 

Provavelmente graças a Deus e à sua fervorosa fé, Pi é socorrido por habitantes locais, por quem é muito bem tratado, e levado para o hospital.

 

A terceira e última parte resume-se à entrevista feita pelos representantes da empresa japonesa responsável pelo cargueiro Tsimtsum. Estes mostram-se pouco recetivos, e mesmo desconfiados, quanto à viagem de Pi. Pressionado, o protagonista relata uma outra versão do seu infortúnio, sem animais. Uma versão fria, dolorosa e arrepiante. Uma versão sangrenta. Para cada animal, há uma pessoa que lhe ocupa o lugar (e o destino). Exceto um.

 

Em que versão acredita? O leitor tem a oportunidade de escolher em qual delas acreditar!

 

Eu já fiz a minha escolha, tal como Pi. E parece que também o Sr. Okamoto, um dos japoneses, a fez, o que é comprovado pelo seu relatório, no qual é possível encontrar a seguinte frase:

 

“Muito poucos náufragos podem afirmar ter sobrevivido tanto tempo no mar como o Sr. Patel, e nenhum na companhia de um tigre de bengala adulto”

 

Reflexão. Esta é a palavra que, na minha opinião, melhor define esta obra, capaz de obrigar o leitor a pensar nas várias dimensões da vida e a tentar deslindar os seus grandes mistérios. Tudo isto numa obra que afirma conseguir fazer-nos acreditar em Deus.

 

Pessoalmente, fiquei surpreendido com a escrita de Yann Martel. Uma escrita do inconcebível que se mostra tremendamente realista, levando o autor a acreditar que tudo o que é narrado aconteceu mesmo.

 

O livro já teve lugar nos cinemas, embora, no meu entender, esta versão cinematográfica não transmita de uma maneira tão profunda a essência da obra.