"Mágoas da Escola"

Resenha: "Mágoas da Escola"

07/10/2015 19:56

 

 

  Editora: Porto Editora

  Autor: Daniel Pennac

  Edição: 1

  Número de páginas:256

 

 

 

 

Sobre o autor:

Daniel Pennac nasceu a 1 de dezembro de 1944, em Marrocos. Como um dos maiores rostos da escrita em França, recebeu o prémio Renaudot em 2007 por esta mesma obra. Viveu a sua infância em África, Ásia e França, onde o seu pai lhe incutiu o gosto pela leitura. Escreveu diversas obras, dirigidas aos mais variados públicos, incluindo o infantil (por exemplo, O Cão Cabeçudo), que foram traduzidas para quase todas as línguas.

 

A obra:

Daniel Pennac narra na primeira pessoa, baseando-se na sua experiência de vida. Primeiro, como aluno “cábula”, e, mais tarde, como professor… É essa experiência que o torna capaz de, ao longo da obra, ir desmistificando os conceitos estereotipados de “aluno ideal” e de “mau aluno”.

 

O autor vai relatando um conjunto de episódios que o marcaram, de forma a ilustrar de que maneira, através de um tratamento pessoal por parte do professor, muitos casos de desespero se tornam situações de sucesso… situações em que o “milagre” se baseia num pouco de amor e compreensão…

 

“- Os profes dão-nos cabo do juízo!
- Enganas-te, o teu juízo já está comprometido. Os professores procuram remediá-lo.”

 

Sim, porque aquela pessoa que está à nossa frente numa sala de aula, antes de professor/a, é, e acima de tudo, um ser humano, que é capaz de nos ajudar a enfrentar problemas, que está lá quando é preciso, uma espécie de substituição dos pais na escola…

 

É genial a forma serena com que Daniel Pennac consegue criticar alguns dos tabus do ensino atual, abrindo os horizontes ao leitor para que este compreenda os verdadeiros problemas a combater e como o fazer!

 

Pennac mistura recordações autobiográficas com reflexões sobre a pedagogia e as disfunções do ensino, acerca da dor de ser um mau estudante e da sede de aprendizagem, sobre um sentimento de amor e exclusão ao ensino.

 

Esta obra também é capaz de mostrar que uma criança condenada, à partida, pelo fracasso, pode vir a tornar-se um adulto com sucesso, neste caso, como professor.

 

Não é apresentado apenas ponto de vista insólito de “mau aluno”, excluído e incompreendido, que apenas necessitava de um “empurrãozinho” para se tornar num aluno interessado e otimista, mas também a visão de um professor, que se depara com “bons e maus alunos”.

 

A forma como Pennac envolve o leitor é tão sedutora que este pensa estar a ler um (excelente) romance. Seguramente, é este fator que faz de “Mágoas da Escola” uma obra única e insubstituível, que todos os pais, professores e mesmo alunos devem ler e dar a conhecer!

 

“Dantes o cábula era representado de pé, voltado para a parede, com orelhas de burro à volta da cabeça. Esta imagem não estigmatizava nenhuma categoria social em particular, apontava um aluno entre outros, mandado para o canto da sala por não ter aprendido a lição, não ter feito os trabalhos de casa, (…) Hoje em dia, e pela primeira vez na nossa história, é toda uma categoria de crianças e adolescentes que se vêem, quotidianamente, sistematicamente, estigmatizados como cábulas emblemáticos. Já ninguém os volta para a parede, já ninguém lhes põe orelhas de burro, a própria palavra «cábula» caiu em desuso, (...)"