Resenha: "Auschwitz: Um Dia de Cada Vez"

02/11/2020 20:15

 

 

  Editora: Esfera dos Livros

  Autor: Esther Mucznik

  Edição: 1

  Número de páginas: 336

 

 

 

Sobre a autora

Filha de pais polacos, Esther viveu em Israel e Paris, tendo já fundado a Associação Portuguesa de Estudos Judaicos, em 1994. Ao longo do tempo, tem vindo a dedicar-se ao estudo da cultura judaica e ao dialogo inter-religioso.

 

 

A obra

Olá a todos!! :)

 

Sim, sim, eu sei. Eu nunca leio não-ficção. Mas, bem, há temas para os quais devemos abrir exceções. Especialmente se o livro em questão já estiver na estante há mais de dois anos…

 

E nem sei bem porquê. Bem, talvez saiba. A minha aversão à não-ficção é grande o suficiente para me fazer evitar estes livros durante o tempo que for necessário. Contudo, li este livro no âmbito de um desafio no Instagram, e rapidamente concluí que não teria havido melhor ocasião para a fazer.

 

Li-o mesmo tempo que assisti à temporada final de “As Telefonistas”, a qual se passa no período da Guerra Civil Espanhola e que acaba por me fazer sentir algo semelhante no que toca às ideologias extremistas em jogo… Ideologias estas que levaram milhões de judeus a serem impessoalmente assassinados como um necessidade para o crescimento de uma Nação por eles ameaçada

 

 

Foi preciso uma boa dose de rigidez de estômago para avançar certas passagens do livro. Todos já ouvimos falar sobre o que é o Holocausto e que deles resultaram milhões de mortos. Na verdade, habituámo-nos a isso, tomamo-lo como um dado histórico e pronto. Mas vivê-lo realmente, sentir o medo, o cheiro a morte e a crueldade através dos testemunhos de quem o sofreu é absolutamente avassalador.

 

Este é o livro que nos revela verdadeiramente o que era essa máquina de terror do universo concentracionário nazi. Uma estrutura gigantesca, organizada e impessoal capaz de esvaziar a alma de muitos mais do que todos os que morreram de uma forma muito particular. Uma a uma, todas as vidas deixaram de existir. De fazer sentido enquanto tal.

 

De um momento para o outro, aquelas pessoas deixaram de o ser. Perderam os seus bens, os pertences, a família, foram esvaziados de qualquer autoestima ou vara à qual se agarrar. Mortos já antes de morrer.

 

 

Mas não são só histórias de morte e vazio que Esther nos traz. Pelo contrário, apesar de a maioria o ser (como será de esperar), somos ainda apresentados a casos de resistência, onde a força para continuar a tomar banho quando lhes era permitido constituía um ato de manutenção da humanidade que lhes restava.

 

E é isto que realmente dá brilho ao livro. As histórias. Os testemunhos. Quando a escrita da autora não é nada por aí além e frequentemente a exposição de dados cair no aborrecido, são os relatos que nos levam a viver a concretização de toda a informação que Esther reuniu. Que é muita mesmo! (Esta mulher fez um trabalho de pesquisa imenso!!)

 

Quer seja totalmente o vosso género de leitura habitual, quer não, aconselho-vos a leitura. Continua a ser uma leitura necessária, nos tempos que correm. Em particular, quando ainda existe quem negue ou desvalorize este período da história. Quando ainda ouvimos políticos a encherem a boca para desprezar minorias e apelar ao ódio e ao nacionalismo desmesurado. A História tende a fazer-se em ciclos, por favor não deixemos que este período negro se repita…

 

Boas leituras!! ;)