Resenha: "O Crepúsculo da Democracia"

12/12/2020 08:20

 

 

  Editora: Bertrand Editora

  Autor: Anne Applebaum

  Edição: 1

  Número de páginas: 208

 

 

 

 

 

Sobre a autora

Anne Applebaum é uma jornalista verdadeiramente política. Uma jornalista que chamou a atenção para a interferência russa nas eleições americanas e para a onda antidemocrática pela Europa. Uma jornalista que passou mais de uma década no Washington Post e que recebeu diversos prémios pelos livros que publicou à volta do mundo.

 

 

A obra

Olá a todos!! :)

 

Bem, este é um livro que muitos pensam aconselhar apenas a amantes e conhecedores de política. E talvez tenham uma pontinha de razão, visto que, quem não tiver as mínimas noções do que está em causa poderá, a dada altura, ficar um pouco perdido.

 

Contudo, sinto que devo estender a minha sugestão! E bem longe! Porque se há coisa à qual, cada vez mais, devemos prestar atenção é ao que se passa à nossa volta. No que o nosso mundo se está a tornar para evitarmos que aconteça exatamente o mesmo aqui em Portugal. Já esteve mais longe.

 

A verdade é que este livro é um relato, com um toque pessoal da autora, que nos chama a atenção para os movimentos antidemocráticos que têm vindo a ganhar cada vez mais força. Os argumentos e técnicas que usam para que uma boa parte da população acabe a cair no seu engodo.

 

 

Ao longo do livro, a autora faz-nos pensar através do que está efetivamente a acontecer. Dos movimentos que ocorreram nos EUA, claro, mas centra-se bastante em casos como a Polónia (onde vive), a Hungria, ambos países em estados assustadores e preocupantes, e mesmo Espanha e... Reino Unido (onde o parlamento chegou mesmo a ser suspenso para que se pudessem tomar decisões como o Brexit sem acordo sem arriscar o não consentimento por parte do órgão que representa toda a população do país).

 

Algo interessante que a autora explora é o facto de o autoritarismo não ser algo exclusivo de extrema direita, ou até só de extrema esquerda. O autoritarismo é sobre intolerância à ambiguidade, é feito para tranquilizar as pessoas que têm essa “predisposição genética”, manifestada por uma grande dificuldade em tolerar a diferença e a complexidade do mundo. Pessoas que anseiam por uma simplificação da realidade, por muito falsa e extremista que seja.

 

Para além disso, ficam ideias como as de que a democracia é um sistema muito frágil. Facilmente suscetível a ameaças externas. É um sistema que se baseia na transparência, participação e espírito crítico. Uma ordem que exige que quase todos os cidadãos tenham essa predisposição e positividade. Ou que lutem por essa realidade, para que não haja tentativas corruptas e nada transparentes de controlo dos poderes estatais como tem vindo a acontecer. Tentativas nas quais muitos são os eleitores que não percebem o que de errado está a acontecer.

 

 

Falando mais sobre o livro em si. A escrita da autora é realmente simples e ajuda a leitura a fluir facilmente. O que, com um livro tão curto, quer dizer que uma tarde livre implica a finalização deste menino, apenas com uma ou outra pausa para absorção de algumas ideias e reflexões.

 

Algo muito interessante é o facto de a autora ligar a sua história pessoal à História ocidental. O livro começa com o relato de uma festa de passagem de ano em 2000, com personalidades maioritariamente de direita com as quais Anne se dava. 20 anos depois, a grande maioria destes rostos acabaram a voltar-se para os movimentos antidemocráticos e afastar-se daqueles que eram efetivamente moderados e lutavam simplesmente por uma visão mais liberal e de direita democrática. Adorei as passagens com este tipo de pontes; a única coisa a apontar é o facto de, por vezes, ocuparem demasiadas páginas com detalhes pessoais um pouco mais irrelevantes.

 

Anne apresenta-nos diferentes acontecimentos e revela-nos os antecedentes e pequenos passos aparentemente inofensivos que conduziram ao ponto de situação atual. Por outro lado, poderia ainda ter trazido mais dados nos quais se basear para algumas afirmações, pelo que, muitas vezes, acaba a apoiar-se abertamente em pessoas que conheceu e que decidiu entrevistar (aquelas pessoas que acabaram por se voltar para o outro lado da cisão ideológica) e parece até que Anne está a alimentar o ego enquanto nos fala de todas essas personalidades bem-sucedidas com que se dá ou deu no passado.

 

Seja como for, gostava mesmo de reforçar a necessidade de lerem este livro! É uma leitura rápida e que, mesmo assim, nos deixa conscientes sobre o que se anda a passar. Um livro que nos ajuda a não sermos uns “ceguinhos” que não percebem os movimentos à sua volta, os movimentos que podem (se nada for feito) vir a mudar as suas vidas. Para pior.

 

Boas leituras!! ;)

 

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